domingo, maio 28, 2006

Tango

Banhados pela luz prata da lua,
Toda a tua figura me insinua,
Sobre o vestido te vejo nua,
Gladiamo-nos dançando na rua.

Ao som do Tango entrelaçados,
Ao som de amantes disfarçados,
Sensuais carícias cobiçados
Por mil olhos embeiçados.

Em cada impedimento um pagamento,
Em cada movimento um sentimento,
Do gemido da viola o sofrimento,
O desejo pede aprofundamento.

A luz e o espaço esquartejo,
Ao som do Tango te desejo,
E em rodopio te manejo,
E sobre a lua tudo vejo.

Ao som do Tango te seduso,
Onde cada passo é selvagem,
Danço num passo confuso,
Pois tudo em ti é vertigem.



Foto de:
Pergamon

quinta-feira, maio 25, 2006

Ler-te

Deixa-me ler teus pensamentos,
Que teu corpo seja como pergaminho,
Para que nesses breves momentos,
Eu te leia com imenso carinho.

Do movimento estranho que revelas,
Quero conquistar o significado,
Quero dessa leitura, sequelas,
Soletrar o teu corpo endiabrado.

Os teus gestos são poesia,
Declamada em cada rodopio,
E com toda a fantasia,
Esse teu livro copio.

Meu coração avança na cadência,
O tempo recua em cedência,
Quando leio tua correspondência,
Renasce toda a minha existência.

Que sotaque é esse no teu jogo?
Que me faz ir perigosamente,
Ao encontro do fatal epílogo,
Que queria adiar eternamente.

E de repente, salto em frente,
Numa viagem repentina, dormente,
Meu olhar não mais se encontra,
Teu livro li secretamente.



Foto de:
Sascha Hüttenhain

quarta-feira, maio 17, 2006

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me cega são os olhos.

São como lagoas cristalinas,
Ou a imensidão do universo,
Ou talvez luas traquinas,
Revirando meu mundo ao avesso.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me provoca fome é a boca.

Larga, como uma cesta de fruta,
Oferecendo seus lábios frutuosos,
Em forma de coração para que desfruta
O dançar de línguas afectuosos.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me ensurdece são os Ouvidos.

A magia das bobagens ao ouvido ditas,
Sussurros de amor, sensações estimuladas,
Palavras simples ou até mesmo interditas,
Arrepios soltos, invasões articuladas.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me segura são os Cabelos.

Cabelos são ondas, são devaneios,
Trazem a brisa para eu navegar,
Tal como as crinas, são freios,
Quando me encontro a ofegar.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me sustenta é o Pescoço.

Leito de mil mordidas e mil beijos,
Onde nasce a voz que reclama o desejo,
Pilar de fragrâncias escondidos,
Torre de marfim, santuário de meu festejo.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me apega são os Seios.

Adoro quando se libertam de seus cativeiros,
Quando se erguem de bicos rijos e febris,
De novo entregando-se às mãos, prisioneiros,
Ofertando redondas maciezas belas e gentis.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me dá vida é o ventre.

Esse vale místico de fertilidade,
A ligação umbilical da humanidade,
Afrodisíaco leito de minha insanidade,
Planície infinita de minha felicidade.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me prende são as mãos.

As mãos de uma mulher são poesia,
Seus dedos, bailarinas de fantasia,
Bailando provocam-me arritmia,
Deixando-me entorpecido ou em extasia.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me deslumbra são as costas.

Contemplar umas costas descobertas,
É maravilhar-se com a doçura,
São como persianas entreabertas,
Mostrando sua alma natura.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me faz correr são as pernas.

Se torneadas por Deuses desconheço,
Mas são magníficas torres de seda,
E tropeço perante, porque enfraqueço,
Perante a mais bela visão recriada.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me calca são os pés.

Se dourados pelo Sol lembram-me
Folhas alaranjadas simulando o Outono,
Se as cores se lhe evaporam,
Lembram-me flocos de neve,
Ou pétalas bailando ao vento.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me endoidece é o seu quadril.

As nádegas, são Montes de ternura,
É a eterna formosura,
Que em momentos de penúria,
É o regalo da fartura.

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me aprisiona são as coxas.

Se entre duas coxas imobilizado,
Deixo de ser civilizado,
Desbravo esse teu império,
Até às portas de teu mistério!

Se me perguntarem o que mais gosto numa mulher.
Direi que o que me subjuga é o seu sexo.

Já não gosto deles guedelhudos imagine,
Lembram-me a barba do Aiatolá Khomeini,
Gosto rentinhos ou que me lembrem Lenine,
E que aparentem o núncio Buccarini.

Libertando-me escraviza-me de facto,
Nesse mistério me rende fiel,
Mas o que me envolve de facto,
é a sua alma de Mel.



Foto de:
A Brito

sexta-feira, maio 12, 2006

O Poder das Palavras vs Poder das Armas

Aqueles que nos governam, são patronos da patifaria, do cinismo, corrupção, são também genocidas, uns autênticos filhos da puta, pois não me recorda, que anjos tenham governado o mundo.

Esses, a quem a juventude foge, tornam-se exímios na manipulação de ideais, toldam sem escrúpulos a juventude, tornam-nos autenticas marionetes nesse jogo de poder, em que a vida dos outros nada significa, nem mesmo números.

O que significa 50000 mortos aqui, 6 milhões ali, 100 milhões acolá.
Nada, absolutamente nada.

De vez em quando, representam ao tentar furjar sentimentos, que também são humanos e que ficaram chocados ao ver a foto de uma criança com perna e braço amputado, ainda que isso não bastasse com o triplo de orifícios que a natureza lhe doara.

Mas em seguida desdobram-se em telefonemas com algum requinte sadomasoquismo, para o centro de operações a perguntar porque é que os bombardeamentos são pouco efectivos.
É que essas fotos chocantes são apelidadas de danos colaterais. Danos colaterais?
Danos colaterais, bem... depende da linha em que nos encontrar-mos. É que tenho ouvido falar em terrorismo.

Mas deve ser a mesma coisa, devem empregar estes sinónimos por uma questão cultural. Quando provocado pelo ocidente é dano colateral, quando provocado pelo que fica fora do ocidente é terrorismo.

Sim, tenho a certeza que é a mesma coisa.

E na frente, jovens imberbes, e menos imberbes, manipulados até ao tutano, embriagados pelo medo, ou seduzidos pelo tenebroso, capazes do comer e de se divertir entre sangue jorrado das suas próprias vitimas.

A guerra é uma verdadeira erva daninha para a humanidade.
E dizemos que somos Civilizados, nós que promovemos o culto da morte, tornamos por força inocentes em homicidas e tudo isto com declarações de boas intenções.

Mas as nossas acções são como sementes, e no final ainda iremos colher aquilo que semeamos, com um gosto muito amargo.

Sinceramente eu não aprovo e sinto mesmo nojo do terrorismo, tanto o deles, como os nossos danos colaterais. No fundo até considero que eles são muito mais corajosos que nós. Dominamos a tecnologia, temos uma capacidade bélica 1000 vezes superior, e no entanto é com certo respeito que assisto um terrorista a explodir-se em nome da sua causa.

Tal como os gatos, que perante uma ameaça, vão recuando até um determinado momento, porque podem, e desatam aos pulos ou atacam, apenas porque não podem mais fugir, é assim que vejo o terrorismo.
É a única alternativa em desespero na luta pela liberdade e dignidade. E esse desespero fomos nós que criamos, e que se vira hoje em dia contra nós.

”Por isso morrer por morrer, que seja com alguns inimigos para os acompanhar pela longa marcha até... ao céu?” - Devem eles pensar assim.

Também nós temos uma expressão similar, “Perdido por um, perdido por mil”. É a mesmíssima coisa, quando em causa colocam a dignidade de um homem. Antes morrer que submeter-se à escravidão.

Nós, eu, tu, ele, também somos culpados.
Nós consumimos a violência com uma certa aberração, adoramos ler/ver artigos/tv de tortura, humilhação, suspeitas infundadas, transgressões, burlas, da fulana Y que colocou os cornos ao funano X, nós adoramos estas merdas, não por gostar delas, ou talvez sim para alguns, mas porque são simplesmente magnéticas.

Viva o império da violência.

A humanidade simplesmente está louca, e nós cada vez mais fracos. Pois civilizadamente não somos capazes de colocar ordem em nossas casas, não somos capazes de dizer basta, ou por falta de meios ou por falta de coragem, ou porque temos medo de perder a pouquissíma miséria que guardamos. Não nos conformamos nem nos revoltamos.

Apenas quando formos agredidos, ou espancados, roubados… (isso já somos e também nada fazemos contra), até parece que gostamos e sempre fica um tema de conversa para o dia seguinte.

- Aquele filho da puta é um ladrão…onde já se viu… enfim as mesmas merdas de sempre. Eu tenho mais palavrões, mas estes são empregues culturalmente por todos nós.

Verbalizava eu, apenas quando na rua nos esbarrarmos porque a casa foi leiloada, quando a fome apertar, quando já nada tivermos a perder, então aí, os ignorantes se revoltam, acabando por cometer o mesmo crime que antes condenávamos.

E com o passar do tempo, como dizia o Fernando Pessoa,
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”,

com humildade digo:
-Fernando, devias ter acrescentado, mudam-se os hipócritas, mudam-se os filhos da puta também.

quinta-feira, maio 11, 2006

Mágoas

Morre o sonho pela desgraça,
entorpece meu Ser pelo dissabor,
manietaram-me toda a esperança,
não existe mais jardim nem flor.

Só de pensar, sinto tremor,
minha alma está algemada,
presa ao corpo pela dor,
anseia o toque da alvorada.

Penso escapulir ao relento,
logrando o meu tormento,
e novos caminhos enveredar.

Corro sem parar pela mocidade,
acreditando na eternidade,
salvo, se a morte não me bradar.




Foto de
Luís Garção Nunes

sexta-feira, maio 05, 2006

Escrevendo em teu corpo

Quero imprimir em teu corpo
o que possuo em minh'alma,
Quero ler feito um louco,
e poder contemplar com calma.

Quero tatuar as minhas emoções,
quero marcar todo o prazer,
e sob teu corpo permanecer,
revivendo assim as paixões.

De que serve tudo ter, tudo saber,
Assim se em teu corpo escrever,
Se um dia a memória desaparecer,
Nunca mais te poderei esquecer.

Seja por encanto ou fantasia,
Quero rescender a nossa paixão,
Quero que tu e eu sejamos magia.
Não quero que seja uma ilusão.

Por tudo isso...

Quero imprimir em teu corpo
o que possuo em Minh'alma.



Foto de:
Pedro da Costa Pereira

segunda-feira, maio 01, 2006

Silêncio

E assim, silenciosos ficamos,
dialogando por nossos pensamentos,
rodopiando como um gira discos,
viajando pelo imenso cosmos.

As palavras que queremos dizer,
nem ainda foram inventadas,
pois, nem ainda estão labiadas,
sem forja, para assim bendizer.

E assim, na silenciosa algazarra,
sem eco, falamos rimos e gritamos,
como a melodia d’uma guitarra,
que sob nosso abraço, enjeitamos.

E assim, silenciosos ficamos,
E é assim que nos amamos.