domingo, outubro 29, 2006

Num momento de existência temperada.

Foto de Jana Vieras

Num momento de existência temperada,
Não mais consigo ficar em parte certa,
E nesta louca ânsia que me é incerta,
Procuro em ti a derradeira pousada.

Algo, que me enraíze intensamente,
E num quadro de loucura pincelada,
Que transformando-me tão de repente,
Como a chuva, ao molhar árida camada.

Transformar a fome e a sede em raízes,
Neste terreno baldio por construir,
Transformando dois réus em juízes,
Sem dor, só o vermelho amor a fluir.

E nessa doçura inefável do teu corpo,
Todo o meu ser, encontrar novo sopro.

sábado, outubro 21, 2006

A marcha do tempo


Foto de Rui Matos

Tic Tac, som do tempo passando,
e na inocência de sua cadência,
apena deixa, rastos de ausência.
são os rastos de Tic Tac voando.

Em frente vai, sem um tic incerto,
e quem parar, ouve um tac aberto,
no tic seguinte, perde o instante,
do tac passado, que infernizante.

Mas passa o tempo, também o desejo,
ouve-se o tic tac, já não é amado,
entristecido estou, um tic bocejo,
e um tac liberto, bem alucinado.

Com tempo a terra cobre tudo de graça,
percorre os vivos e os mortos abraça.

terça-feira, outubro 17, 2006

Como deixar de fumar?


Foto de Hugo

A tua silhueta na penumbra desenho,
Refugio-me no interior de lembranças,
A fútil segurança com que me empenho
De manter vivas falsas esperanças.

Esperança, bengala psi dos crentes,
Mente-nos descaradamente sem cessar,
Mente-nos mostrando todos os dentes,
E o parco tempo rouba-nos sem parar.

Fica manchada toda a minha existência,
Na sexual danação que tivemos os dois.
Por ter errado assim na persistência,
Fique o sonho extinto sem alucinações.

Como se pode salvar de um crasso erro?
Salvamo-nos passando pelo seu enterro.