quinta-feira, abril 27, 2006

Sufoco

Quando a palavra quebra todos os cristais,
Quando um olhar é capaz de tudo incendiar,
Quando falam, e escutar não conseguimos mais,
é porque sentimos sufoco.

E sentimos sufoco,
por querer tudo quebrar,
por querer tudo infernizar,
por querer tudo apagar.

Quando de repente o mundo se torna pequeno,
Quando simplesmente mal dá para nos mexermos,
Quando por nada, de dúvidas somos assaltados,
é porque sentimos sufoco.

E sentimos sufoco,
por ser tudo apertado,
por ser tudo contido,
por ser tudo lapidado.

Quando de repente, as lágrimas emergem,
quando impotentes sentimos vertê-las,
quando com força, não conseguimos contê-las,
é porque sentimos sufoco.

E sentimos sufoco,
por ser tudo molhado,
por ser tudo furado,
por ser tudo vazado.

E mais sentimos sufoco,
por não ser mais amor,
por não ser mais suspirar,
por não ser mais sonhar.

E sentimos sufoco, neste mundo oco...

quarta-feira, abril 26, 2006

Diálogo com a Morte

- Alô, está na hora de vocé voltar.
- Não, quem é vocé para me ditar?
- Sou vocé, aqui neste lugar.
- Como? Já chega, deixe de brincar.

- Vamos, estou aqui para o buscar.
Chegou sua hora, toca a embarcar.
- Este lugar eu não quero abandonar,
o que preciso é apenas respirar.

- Se vocé não me acompanhar,
diga-me o que promete mudar.
Mas atenção, se vocé faltar,
o chamarei noutra hora, noutro lugar.

- Eu...eu posso tentar recomeçar,
voltar a sonhar, voltar a cantar,
voltar a olhar, voltar a amar,
nada mais ocultar nem dificultar.

- Sendo assim, essa pedra vou elevar,
para que vocé volte a caminhar,
por isso não vou adiantar,
sua hora neste lugar.

Mas se à promessar faltar,
noutra hora, noutro lugar,
para outro mundo sem demorar,
voltarei para o acompanhar.

Explica-me como se fosse um puto de 4 anos

Porquê? Porquê? Porquê?
Vá lá diz-me lá porquê?

Porquê que tu ouves musica do Ipod, e eu dum canhão?
Porquê que tu danças ao som da musica, e eu das balas?
Porquê que tu deitas na cama e eu nas valas?
Porquê que na tua terra existe paz, e na minha não?

Porquê? Porquê? Porquê?
Vá lá diz-me lá porquê?

Porquê que tu tens liberdade, e eu dela saudade?
Porquê que tu podes dormir, e eu apenas fingir?
Porquê que pela vida podes sorrir, e eu apenas competir?
Porquê que tu tens tanta facilidade, e eu adversidade?

Porquê? Porquê? Porquê?
Vá lá diz-me lá porquê?

Porquê que tu podes crescer , e eu nem comer?
Porquê que tu podes brincar, e eu nem andar?
Porquê que tu podes louvar e eu apenas tremer?
Porquê que tu podes morrer e eu nem viver?

Porquê? Porquê? Porquê?
Vá lá diz-me lá porquê?

Destino

Destino, quando penso com realismo,
assaltam-me palavras como sorte,
maldição ou até mesmo fatalismo,
e todas elas se cruzam na morte.

Em todo o caso uma delas está correta.
O fatalismo considera uma causa certa,
negando livre arbítrio, fica o alerta,
quanto mais vivemos, mais ela t'acerta.

Seja por várias ou único acontecimento,
preestabelecido, consciente, sobrenatural,
o abomínavel chegará, esse breve momento,
sendo para tal, irrevogavelmente fatal.

Conjugo o Destino no Futuro,
Conjugo a Sorte no Presente,
Maldição não conjugo, é Apuro.

Enquanto ela por Sorte,
ou Azar, não se Ausente,
é preciso ser Prudente.

terça-feira, abril 25, 2006

Dulce

Quão Dulce é teu chamar
és frangância de sonhar.
Dolce Gabbana a matar.
és light blue de arrasar.

São D'ouro negro, esses cabelos,
São derrame de esperanças,
são maravilhosos esconderelos
são constrastes em mudanças.

És tão Dulce cinderela,
com essa voz de gatinho
Se tivesse mais perto,
eras meu doce pecadinho.

Gucci Rush é teu aroma,
nesse corpo a exalar,
Nem o Imperador de Roma
Deixaria de se ajoelhar.

Por isso minha ternura,
vai de encontro ao teu olhar,
serás sempre minha iluminura,
enquanto meu ser perdurar.



Poema dedicado à minha amiga Dulce Luisa

segunda-feira, abril 24, 2006

Amor

Não vou falar de amor,
faz tempo que perdi seu sabor,
Vou antes falar de humor,
pois é suave e não traz dor.

Faz tempo que procuro essa dor,
e o tempo o me tem dado?
Não, antes ficasse calado,
Nada, só me resta o clamor.

Mas como se clama por amor?
Como se reclama o desconhecido?
Essa chama, esse ardor, essa dor.
Por quem eu luto por ser merecido.

E o tempo passa por mim esquecido,
Esse sabor de alegrias escondido,
fez de mim peregrino perdido,
procurando uma sombra sem sentido.

Sim, faz tempo que perdi seu sabor.
E o tempo passa por mim esquecido,
Não vou falar de amor,
não é suave e traz dor.

Além

Além, é enigmático.
Além, é mais distante.
Além, é anemático.
Além, é já adiante.

Quem ofertou ensejo para erro?
Foi a palavra de alguêm?
Iludindo-nos num belo enterro?
Indo um pouco mais qu'outrem?

Além, será outra vida?
Além, será radiante?
Além, será revivida?
Além, será distante?

Além, além, além mar,
Além, o pescador a remar
Além, além, além fronteiras,
Além, o anjo quebrando barreiras.

Além, o que mais têm?
Além da morte divina,
Além da dúvida da doutrina,
Além, do profeta também.

Além, o que mais têm?
Além de ser além?

Nascimento

Foi fatal, foi finalmente.
Mas conservo minha mente,
e tenho sempre presente,
que meu corpo está ausente.

Foi fatal, foi finalmente.
oiço vozes longiquamente,
encurralado abafadamente,
quero sair avidamente.

Foi fatal, foi finalmente.
sinto o sopro abruptamente,
sinto a dor adveniente,
sinto meu corpo ardente.

Foi fatal, foi finalmente.
mas d'alma presente,
fidalgamente fedente,
eu vivo novamente.

domingo, abril 16, 2006

Que Futuro...

Sejamos, aquilo que somos,
Sejamos, aquilo que aspiramos,
Mas não sejamos tão tolos,
às ordens de falsos amos.

A vida do homem vai mais além,
alguns vivem atrás do sonho,
outros porem, vivem a de outrem,
que lástima, que enfadonho.

A democracia está moribunda,
Nesta sociedade vigente
onde o logro nos circunda
Onde o falso é florescente,

Nosso futuro já mais que refunda,
nas mãos de um falso regente.
A Esperança já não abunda,
ninguém faz nada, minha gente?

sábado, abril 15, 2006

Tempo

Existe algo na vida que não se recupera,
esse algo é o tempo, quando é, já era,
e quanto mais tempo, menos remunera,
é mera fortuna que não regenera.

Para quem vive, o tempo impera,
aos amantes o tempo acelera,
para quem desespera, ele dilacera,
aos mortos não reconsidera.

Mas para alguns o tempo libera,
mesmo para aqueles em que é Quimera
o tempo, com tempo, se recupera.

O tempo não se considera austera,
mas quem com o tempo coopera,
degenera com a espera que gera.

sexta-feira, abril 14, 2006

Chuva

Adoro quando o céu de raiva grita e enviúva,
Adoro quando da libertação as gotas caem,
Adoro quando me envolvem como uma luva,
Adoro quando fazem de mim seu refém.

Adoro simplesmente a chuva a correr como um trem,
Adoro simplesmente quando junto a mim está mais alguém,
Adoro simplesmente o vapor libertado indo mais além,
Adoro simplesmente esse sentimento como ninguém.

Adoro a chuva porque é Natureza,
Adoro a chuva porque são ornamentos,
Adoro a chuva porque é certeza,

Adoro a chuva porque da rebentos,
Adoro a chuva porque é riqueza,
Adoro a chuva porque é pureza.