segunda-feira, setembro 25, 2006

Duas bocas, estão loucas, e tremem.


Foto de Miguel Moniz

Duas bocas, estão loucas, e tremem,
As doces línguas, são moucas e gemem,
Não fogem, mas invadem, como selvagens,
Outras bocas e línguas, outras margens.

Tocam, estão nuas, sempre nuas, as duas,
Estão vivas, são dunas, são meias luas,
Independentes, impacientes, são carentes,
Protestam, atacam, mordem os presentes.

E dançam e nadam e suam, insatisfeitas,
Navegam corpos nos rios por si feitas,
Ateiam fogos, em corpos já ensopados,
E seus beijos são poemas declamados.

Poemas em versos de rosas perfumados,
Rimando nas línguas, de dois achados.

domingo, setembro 24, 2006

O aborrecimento desta vida...


Foto de Maria Flores

Um terço da vida, é na cama cumprido,
Nem sempre gozando. É mais, dormindo.
O sono alimenta os momentos sagrados,
Os dois terços de vida mais agitados.

Outro terço gasto, resulta na labuta,
Voluntariamente, por amor ou à bruta,
Labuta o rico, o pobre e o ignorante,
É chato, é refúgio, e é gratificante.

Um terço resta, e quando bem ocupada,
Vida com graça, bela e despreocupada,
Mas o oposto transforma-se em torpor,
É tédio, estagnação, torna-se horror.

Os terços da vida, nesta gente ficou,
Desta imensa escravidão, nada deixou.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Grito de dor por me achar metade.


Foto de Carlos Pereira

Grito de dor por me achar metade,
E da perda morre-se-me os sentidos,
D'amor, confiança, até a saudade,
Se perde na companhia dos vencidos.

Não mais carrego em luz a idade,
Mas o fardo que vai escurecendo.
Jaz já metade de minha claridade,
O tempo, o que resta vai comendo.

Zarolho que sou, não mais acerto,
Nem um sopro dessa meia, nem ais,
Tão pouco essa sombra esquecida.

Música minha, vida em desconcerto!
O que me cantas quando assim olhais?
Roubas-me a alma matando-me a vida.

domingo, setembro 17, 2006

Loucura


Foto de Iksodas

Não passa de um fato, a loucura,
Que vestido ou não, por momentos,
Liberta o demónio nessa escura,
Planície da solidão de tormentos.

Mas existe a boa e a má loucura,
Uma cresce nas entranhas aos poucos,
A boa traz a felicidade e a cura,
E na confusão a má deixa-nos loucos.

Mas como não trocar os pensamentos,
Se quem nesse fato emprestado mora,
Não sabe se despir desses momentos,
Ou ri da dor ou grita porque namora.

E se sair por aí, montado na loucura,
E se me olharam de um jeito estranho,
Pensarei - Tanta gente de cabeça dura,
E eles - Mais uma ovelha pró rebanho.

Não quero saber então se enlouqueci,
Nem quero saber mais da normalidade,
Basta-me saber que te tenho só a ti,
Para mim tudo mais, mera futilidade.

sexta-feira, setembro 15, 2006

O beijo de fome não mata nem abarca.


Foto de Andy Metal

O beijo de fome não mata nem abarca,
Quando olho para essa louca boca,
Para o desejo que em mim me cerca,
Sinto que a minha boca é pouca.

Beijá-los, não seria boa cura,
Não saciaria a sede de vida,
Esses lábios, fonte de loucura,
Saboreá-los, era ser suicida.

Se os beijar, estarei eu febril?
Para a fome saciar serei gentil?
Não creio que assim haja alguém.

Se esses lábios os meus, beijar,
Haverá alguém para os separar?
Nesta vida...não haveria ninguém.

terça-feira, setembro 12, 2006

Descansa agora, dos momentos acontecidos.


Foto de Andy Metal

Assim me deixou, assim me encontrou,
Sentado à frente do écran, teclando,
Arreliada fica, por estar trabalhando,
Roubar-lhe o tempo, que alguém roubou.

Vem vigorosa, pretendendo cavalgar-me,
A ficha arranca, não me dá alternativa,
A cadeira roda, para poder amar-me,
Imobilizado fico, à sua mercê, sem saída.

Desaparecendo entre papudos beicinhos,
Sinto-me sugado por tantos miminhos
Morrendo de prazer entre mil gemidos

Nada mais posso fazer, apenas explodir.
Vaga agora a fome que veio sem pedir,
Descansa agora, dos momentos acontecidos.

domingo, setembro 10, 2006

De morrer há-de haver melhor forma.


Foto de Miguel Delgado e Silva

Estou que nem posso, com certeza,
Nem nada me prende, nem grandeza,
Neste mundo tudo sempre me cansa,
Um enfastiar, mesmo na lembrança.

E nesta segurança sendo duvidosa,
Que a aliança da vida é vaidosa,
Num lanço em espiral me lanço,
Falta a sorte, que foge ao tanso.

Que cansado da vida deambulava,
Mas por tanso ser se encontrava
No princípio do fim do meu lanço
Sustendo o peso do meu balanço.

Longos os momentos a que sujeito,
O sujeito que estragou o meu feito,
Mas o cansaço assim me conforma,
De morrer há-de haver melhor forma.

sábado, setembro 09, 2006

De que vale ter e não sentir.


Foto de Miguel Delgado e Silva

De que vale ter e não sentir,
É como da desgraça apenas rir,
É ser um eterno insatisfeito,
E direito, o gozo sem efeito.

Como olhos que olham o escuro,
Sem passado presente e futuro,
Ter o sol e não ter sua sombra,
Querer no escuro ver a penumbra.

É ter os pulmões gritando por ar,
E estar presente no fundo do mar,
Viver em guerra estando em paz,
Sem esperança nem o que isso traz.

É ter um aperto e não ter peito,
É viver, sempre sempre desfeito.
É como viver no desinteresse,
Como se mistérios não houvesse.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Navegando contigo...


Foto de Alba Luna

Em meus sonhos, a distância do mar,
É a ponte que me une a ti, presente,
No despertar a luz é o abraço de ar,
Que faz que nunca estejas ausente.

Sinto em festa, a brisa marítima,
Na qual iço belas velas amigas,
Navego em sentimentos de estima,
Em bússolas de belas cantigas.

Nem sei porque agora tal me ocorre
Se algum dia a nossa amizade morre,
Era embarcar na viagem apenas d'ida.

Mas sonho e sonho, e eu tudo vejo,
Não memórias que venham de lampejo,
Mas caravelas da tua amizade querida.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Bela sensação, os corpos roçando.


Foto de Joris van Daele

Bela sensação, os corpos roçando,
Seja por baixo, ou seja de lado,
É palpitante, corpos nus abanando,
Ardentes d'amor num atrito delicado.

As coxas entrelaçadas observando,
Braços errantes, mãos endiabradas,
Em prazeres lascivos buscando,
na boca, línguas que são espadas.

E nas mil delícias sempre ardentes,
Os corpos roçam-se como serpentes,
Serpenteando de forma misteriosa.

Por momentos esquecem o fracasso,
E enterram a frustração no abraço,
Roçando pela noite voluptuosa.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Quando a noite cai - III


Foto de ( Autor desconhecido)

Minha amiga eterna, cor de ébano,
Vem de novo e afasta o sol tirano,
Traz a cândida brisa aveludada
Refresca-me por toda a madrugada.

O cosmos cintila de forma notável,
E a Via Láctea brilha insuperável,
As cidades imitam-te na alegria,
Suas belas luzes na noite irradia.

De ciúmes, a Lua, as costas virou,
Rodou, rodou, não mais me sorria,
Deixou-me tornando-se invisível.

Talvez por estar sofrendo não ficou,
E na espera, a noite de novo dia;
Esperarei por ela, se for possível.

terça-feira, setembro 05, 2006

Quando a noite cai - II


Foto de Oscar Lozoya

Desventurados aqueles que vagueiam
Sem lar, tendo estrelas como tecto,
Esmola escassa, que tanto anseiam,
Não é dinheiro, buscam sim afecto.

A sombra da noite cobre-lhes a alma,
Esconde mil tormentos, indiferentes
Os transeuntes que com toda a calma,
Fingem que seres não estão presentes.

E nesta guerra nocturna, Olhos vagos,
Perscrutam o horizonte, mas perdidos,
Por não mais acharem o simples afago,
Que outrora lhes animava os sentidos.

Quando a noite cai, neste desgosto,
Têm por momentos lágrimas no rosto.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Quando a noite cai - I


Foto de Oscar Lozoya

Para muitos a noite é madrinha,
E a penumbra desejos enfeitiça,
Os amantes esconde e acarinha,
Desejo que o próprio sol cobiça.

Para outros a noite é madrasta,
Receio da sombra faz-nos refém,
O mal que ronda e nos arrasta,
Leva-nos por vezes para o além.

A noite tão cândida e meretriz,
Breve, quente, penosa, depende
Do palco, do actor ou da actriz,

Para uns revela-se a mão sombria,
Para outros será um véu ardente,
A noite tudo será sem demagogia.